domingo, 10 de fevereiro de 2013

Quando descobri que era soropositivo

Ainda me lembro do dia em que descobri que era soropositivo.
Era setembro de 2003 e eu estava indo fazer o teste de HIV pela segunda vez. A primeira foi quando meus exames de sangue acusaram uma leucopenia, mas foi alarme falso. Dessa vez, eu estava meio que em dúvida em relação a minha sexualidade e também preocupado por ter tido algumas relações desprotegidas. Lembro-me bem de 2 que ocorreram na sauna que eu frequentava. Em ambas eu me deixei penetrar sem proteção e mesmo se a princípio não queria fazer sexo sem camisinha cedi à insistência dos parceiros. Um deles até me segurou e me forçou, embora no fundo eu saiba que poderia ter me desvencilhado dele. Na hora, vivi um misto de medo e prazer com aquela situação e acabei deixando acontecer. Um deles era meio gordinho, e o outro bem mais velho do que eu, mas ainda em forma (em todos os sentidos). Enfim, fiz o exame num centro público que funciona exclusivamente para isso na minha cidade. No dia de buscar o exame aconteceu assim: A enfermeira me levou para uma sala e fez algumas perguntas sobre minhas práticas sexuais ou sobre o motivo pelo qual eu havia decidido fazer o teste. Depois anunciou que o teste de sífiilis havia dado negativo, mas que o HIV tinha dado positivo. Em seguida fez silêncio e esperou minha reação. Meu primeiro impulso foi duvidar e falei com ela sobre a necessidade de fazer uma segunda coleta para confirmar o diagnóstico e aí pude ver a expressão dela como quem diz: "mais um demonstrando negação pelo diagnóstico". Todavia disse que sim, e que eu colheria sangue em seguida. Pediu licença e me deixou sozinho na sala por alguns instantes. Sinto que a intenção dela era me dar um tempo para a ficha cair e eu talvez perder minha serenidade e começar a chorar, sei lá. Mas, naquele momento eu ativei todos os meus mecanismos de racionalização e comecei a fazer planos e a traçar os cenários de o que faria em caso de diagnóstico positivo. Colhi o sangue novamente e, alguns dias depois, voltei para ter a confirmação do diagnóstico. Sim, eu tinha o HIV no meu corpo. Cabe ressaltar aqui que o atendimento foi extremamente profissional e atencioso. Assim que o diagnóstico foi confirmado eles ligaram para um centro de referência na minha cidade e marcaram uma consulta com um infectologista para mim. Os dias que se seguiram foram tensos pois eu não tinha ideia do que iria acontecer. À época eu ainda morava com meus pais e essa notícia foi o impulso para eu tomar a decisão de sair de casa e ir morar sozinho. Eu sabia que precisaria me cuidar e gostaria de ter privacidade para fazê-lo. Assim que saiu o resultado confirmatório, em outubro, eu saí definitivamente da casa de meus pais. Graças a Deus eu já trabalhava e tinha um salário que me permitiu fazer isso pois minha decisão não foi necessariamente apoiada por eles. Eles apenas perceberam que não tinham como me impedir. Nos primeiros meses morando só eu vivi um misto de emoções e até me afastei dos meus amigos, pois não queria contar nada a ninguém embora ao mesmo tempo sentisse que precisava do apoio deles. Lembro-me até de um grande amigo que veio conversar comigo para saber o que havia acontecido e tal. Desconversei...



sábado, 9 de fevereiro de 2013

Minha vida sem o Efavirenz

Há pouco mais de 6 meses eu iniciei o uso de medicamentos antiretrovirais com a combinação Lamivudina + Tenofovir + Efavirenz. Meu médico me avisou dos possíveis efeitos colaterais como sonhos muito vívidos e pesadelos. Uma semana após o início do uso da medicação tive uma leve alergia (rash) que foi rapidamente contida com o uso de anti-histamínicos. Os sonhos de fato vieram e eu confesso que até os achava divertidos, porém outros sintomas começaram a aparecer. Comecei a ficar mais sensível e a literalmente chorar até em comerciais de margarina. Qualquer coisa era motivo para me levar às lágrimas. Além disso, comecei a me irritar muito facilmente também e andei sendo desaforado com algumas pessoas que me contrariavam. Meu psicólogo, mal informado, considerou normal minha alteração de humor pois eu estava num momento delicado da terapia. Porém, no final do ano passado tive 4 episódios que me tiraram do sério e em um deles eu cheguei a tomar uma atitude de agressão física (leve) contra meu oponente. Esses fatos me deixou muito preocupado pois tive medo de aonde é eu iria chegar. Procurei um psiquiatra que, mal informado também, me receitou medicação contra TAG, depressão etc. Por sorte ou providência, eu acabei antecipando minha consulta com meu infectologista em virtude de um outro problema e comentei com ele sobre esses sintomas e sobre a medicação do psiquiatra. Na hora ele falou: "é o Efavirenz. Vamos substituí-lo por Nevirapina, que é da mesma classe. Se os sintomas persistirem aí veremos que não tem relação com a medicação e você então inicia a medicação do psiquiatra!"
Assim eu fiz e com grande supresa e alegria escrevo hoje após uma semana de nova medicação, onde me sinto muito melhor e mais estável emocionalmente. As adversidades da vida continuam me perturbando (sou uma pessoa sensível e talvez mais vulnerável do que a média) mas durante esses dias após o início da nova medicação não tive nenhuma crise nervosa, não quis matar ninguém. E olha que tive de lidar com alguns assuntos familiares extramemente delicados e estou fisicamente debilitado por causa de uma infecção de repetição que estou tratando. Deus abençoe quem descobriu a Nevirapina!
E que os meus resultados de exame continuem melhorando (em 6 meses  de TARV = 3TC+TDF+ EFZ zerei minha carga viral e aumentei meu CD4 para níveis de pessoas não infectadas).
Às vezes me sinto só por não poder compartilhar essa minha condição com muitas pessoas.
Já são 10 anos e meio desde que descobri que tenho o virus e 6 meses desde o início da nova fase com o uso de medicamentos. Ainda alterno sentimentos entre: Ai meu Deus, estou morrendo de Aids e graças a Deus que comecei a tomar remédio, pois assim terei mais qualidade de vida.