Ainda me lembro do dia em que descobri que era soropositivo.
Era setembro de 2003 e eu estava indo fazer o teste de HIV pela segunda vez. A primeira foi quando meus exames de sangue acusaram uma leucopenia, mas foi alarme falso. Dessa vez, eu estava meio que em dúvida em relação a minha sexualidade e também preocupado por ter tido algumas relações desprotegidas. Lembro-me bem de 2 que ocorreram na sauna que eu frequentava. Em ambas eu me deixei penetrar sem proteção e mesmo se a princípio não queria fazer sexo sem camisinha cedi à insistência dos parceiros. Um deles até me segurou e me forçou, embora no fundo eu saiba que poderia ter me desvencilhado dele. Na hora, vivi um misto de medo e prazer com aquela situação e acabei deixando acontecer. Um deles era meio gordinho, e o outro bem mais velho do que eu, mas ainda em forma (em todos os sentidos). Enfim, fiz o exame num centro público que funciona exclusivamente para isso na minha cidade. No dia de buscar o exame aconteceu assim: A enfermeira me levou para uma sala e fez algumas perguntas sobre minhas práticas sexuais ou sobre o motivo pelo qual eu havia decidido fazer o teste. Depois anunciou que o teste de sífiilis havia dado negativo, mas que o HIV tinha dado positivo. Em seguida fez silêncio e esperou minha reação. Meu primeiro impulso foi duvidar e falei com ela sobre a necessidade de fazer uma segunda coleta para confirmar o diagnóstico e aí pude ver a expressão dela como quem diz: "mais um demonstrando negação pelo diagnóstico". Todavia disse que sim, e que eu colheria sangue em seguida. Pediu licença e me deixou sozinho na sala por alguns instantes. Sinto que a intenção dela era me dar um tempo para a ficha cair e eu talvez perder minha serenidade e começar a chorar, sei lá. Mas, naquele momento eu ativei todos os meus mecanismos de racionalização e comecei a fazer planos e a traçar os cenários de o que faria em caso de diagnóstico positivo. Colhi o sangue novamente e, alguns dias depois, voltei para ter a confirmação do diagnóstico. Sim, eu tinha o HIV no meu corpo. Cabe ressaltar aqui que o atendimento foi extremamente profissional e atencioso. Assim que o diagnóstico foi confirmado eles ligaram para um centro de referência na minha cidade e marcaram uma consulta com um infectologista para mim. Os dias que se seguiram foram tensos pois eu não tinha ideia do que iria acontecer. À época eu ainda morava com meus pais e essa notícia foi o impulso para eu tomar a decisão de sair de casa e ir morar sozinho. Eu sabia que precisaria me cuidar e gostaria de ter privacidade para fazê-lo. Assim que saiu o resultado confirmatório, em outubro, eu saí definitivamente da casa de meus pais. Graças a Deus eu já trabalhava e tinha um salário que me permitiu fazer isso pois minha decisão não foi necessariamente apoiada por eles. Eles apenas perceberam que não tinham como me impedir. Nos primeiros meses morando só eu vivi um misto de emoções e até me afastei dos meus amigos, pois não queria contar nada a ninguém embora ao mesmo tempo sentisse que precisava do apoio deles. Lembro-me até de um grande amigo que veio conversar comigo para saber o que havia acontecido e tal. Desconversei...