Início de relacionamento é sempre parecido. As pessoas começam mostrando o que tem de melhor e mais bonito para cortejar e agradar o parceiro e na medida em que o tempo passa vão se mostrando mais intimamente e algumas partes não tão belas assim vão aparecendo, assim como os defeitos (que todos tem).
No caso de um relacionamento sorodiscordante não é diferente. Eu vivi quase 2 meses aflito com a ideia de que essa seria a questão fundamental para definir se ficaríamos juntos ou não e de repente passou que eu nem senti… tudo bem, isso foi há uma semana atrás e ainda pode ser que em algum momento ele venha a achar que essa questão é um impeditivo, mas as experiências prévias me mostraram que normalmente esse tipo de decisão é tomada muito rapidamente depois que a pessoa descobre a questão sorológica do parceiro.
Ocorre que agora estamos diante de questões que poderiam ocorrer a qualquer casal. Nossa intimidade tem alguns pontos a serem trabalhados. Meu parceiro se declarou uma pessoa que não gosta de penetração em nenhum sentido (nem como ativo, nem como passivo). Depois de falarmos um pouco a respeito ele me contou da dificuldade em ser penetrado e que as vezes que tentou penetrar ele brochou. Falei com ele que penetração nunca foi algo fundamental para mim e que sempre me colocou em algumas dificuldades em ambos os sentido também, todavia era algo de que eu gostava (tanto como ativo ou como passivo) e de que sentia falta. Falei também que nunca fiz questão de ter penetração em todas as relações sexuais mas que, por outro lado, também nunca havia me imaginado num relacionamento onde nunca existiria penetração. Disse-lhe que me parecia que afora a questão de preferências (que não parece ser o caso aqui) o ser penetrado era uma questão física e emocional. Há necessidade de um treino para acostumar-se com algo dentro de você num lugar que não foi originalmente desenhado para isso e um outro lado emocional que tem a ver com a posição de submissão que o parceiro passivo se coloca e que parece ser incômoda para algumas pessoas (não falei com tantos detalhes mas foi isso que pensei em dizer). A questão de ter dificuldade em penetrar já me parece algo muito mais emocional mesmo e ele acabou me contando que já havia procurando atendimento médico e não detectou nenhum problema físico, e também psicológico e o máximo que conseguiu foi lembrar de um fato na infância onde viu seus pais transando e ficou assustado com o ato. Esse relato reforça minha tese de que dificuldades em se manter uma ereção e sobretudo em penetrar o parceiro tem um fundo emocional não-negligenciável. Eu mesmo já tive dificuldades em penetrar algumas pessoas por achar meu pênis pequeno, por me sentir de alguma forma inferior, por estar com medo etc… e já brochei algumas vezes também, o que foi desconfortável mas não me fez desistir da ideia ;-)
Somada a essa questão ele tem alguns problemas de saúde cujos tratamentos são longos e trazem uma série de limitações à vida normal de um casal. Caso continuemos juntos eu estarei assumindo que irei acompanhá-lo nesses tratamentos e que passarei por alguns momentos de restrições de movimentos, de práticas sexuais etc…
Nem todas as coisas que eu venho descobrindo sobre ele são ruins, é claro. Trata-se de uma pessoa inteligente, engraçada, extremamente carinhosa, verdadeira, fiel, com valores humanos elevados, sociável, bonita e a lista dos elogios é não exaustiva.
Resolvi compartilhar isso aqui no blog porque hoje me sinto numa relação mais equilibrada uma vez que ambos temos complexidades pessoais que nos tornam ao mesmo tempo pessoas mais interessantes e mais difíceis de se relacionar. Espero que continuemos juntos por muito tempo pois estou bastante feliz nessa relação onde tenho conseguido algumas coisas que considero fundamentais. As questões que ainda estão me incomodando quanto às práticas sexuais, por exemplo, já estão sendo tratadas e creio que vamos chegar a acordos que fiquem bons para ambos os lados.