domingo, 19 de janeiro de 2014

A medida que conhecemos a pessoa com quem nos relacionamos...

Início de relacionamento  é sempre parecido. As pessoas começam mostrando o que tem de melhor e mais bonito para cortejar e agradar o parceiro e na medida em que o tempo passa vão se mostrando mais intimamente e algumas partes não tão belas assim vão aparecendo, assim como os defeitos  (que todos tem).
No caso de um relacionamento sorodiscordante não é diferente. Eu vivi quase 2 meses aflito com a ideia de que essa seria a questão fundamental para definir se ficaríamos juntos ou não e de repente passou que eu nem senti… tudo bem, isso foi há uma semana atrás e ainda pode ser que em algum momento ele venha a achar que essa questão é um impeditivo, mas as experiências prévias me mostraram que normalmente esse tipo de decisão é tomada muito rapidamente depois que a pessoa descobre a questão sorológica do parceiro.
Ocorre que agora estamos diante de questões que poderiam ocorrer a qualquer casal. Nossa intimidade tem alguns pontos a serem trabalhados. Meu parceiro se declarou uma pessoa que não gosta de penetração em nenhum sentido (nem como ativo, nem como passivo). Depois de falarmos um pouco a respeito ele me contou da dificuldade em ser penetrado e que as vezes que tentou penetrar ele brochou. Falei com ele que penetração nunca foi algo fundamental para mim e que sempre me colocou em algumas dificuldades em ambos os sentido também, todavia era algo de que eu gostava (tanto como ativo ou como passivo) e de que sentia falta. Falei também que nunca fiz questão de ter penetração em todas as relações sexuais mas que, por outro lado, também nunca havia me imaginado num relacionamento onde nunca existiria penetração. Disse-lhe que me parecia que afora a questão de preferências (que não parece ser o caso aqui) o ser penetrado era uma questão física e emocional. Há necessidade de um treino para acostumar-se com algo dentro de você num lugar que não foi originalmente desenhado para isso e um outro lado emocional que tem a ver com a posição de submissão que o parceiro passivo se coloca e que parece ser incômoda para algumas pessoas (não falei com tantos detalhes mas foi isso que pensei em dizer). A questão de ter dificuldade em penetrar já me parece algo muito mais emocional mesmo e ele acabou me contando que já havia procurando atendimento médico e não detectou nenhum problema físico, e também psicológico e o máximo que conseguiu foi lembrar de um fato na infância onde viu seus pais transando e ficou assustado com o ato. Esse relato reforça minha tese de que dificuldades em se manter uma ereção e sobretudo em penetrar o parceiro tem um fundo emocional não-negligenciável. Eu mesmo já tive dificuldades em penetrar algumas pessoas por achar meu pênis pequeno, por me sentir de alguma forma inferior, por estar com medo etc… e já brochei algumas vezes também, o que foi desconfortável mas não me fez desistir da ideia ;-)
Somada a essa questão ele tem alguns problemas de saúde cujos tratamentos são longos e trazem uma série de limitações à vida normal de um casal. Caso continuemos juntos eu estarei assumindo que irei acompanhá-lo nesses tratamentos e que passarei por alguns momentos de restrições de movimentos, de práticas sexuais etc…
Nem todas as coisas que eu venho descobrindo sobre ele são ruins, é claro. Trata-se de uma pessoa inteligente, engraçada, extremamente carinhosa, verdadeira, fiel, com valores humanos elevados, sociável, bonita e a lista dos elogios é não exaustiva.

Resolvi compartilhar isso aqui no blog porque hoje me sinto numa relação mais equilibrada uma vez que ambos temos complexidades pessoais que nos tornam ao mesmo tempo pessoas mais interessantes e mais difíceis de se relacionar. Espero que continuemos juntos por muito tempo pois estou bastante feliz nessa relação onde tenho conseguido algumas coisas que considero fundamentais. As questões que ainda estão me incomodando quanto às práticas sexuais, por exemplo, já estão sendo tratadas e creio que vamos chegar a acordos que fiquem bons para ambos os lados.

Contei que sou soropositivo… e agora?

No último final de semana contei para o meu namorado que sou soropositivo.
Foi difícil chegar a esse momento pois tinha medo de que essa condição fosse um obstáculo para continuarmos nosso relacionamento.
Felizmente ele reagiu bem e continuamos da mesma forma como estávamos antes de ele saber.
Interessante que ele me disse que chegou a pensar que eu fosse soropositivo por causa do meu tipo físico (magro) mas quando ele viu umas fotos antigas minhas e percebeu que eu sempre havia sido magro se disse que aquilo era uma besteira. No final das contas ele tinha razão, mas pelo motivo errado. Quando ele falou isso, a primeira coisa que me veio à mente foi: se ele achava que eu era soropostivo porque ele não perguntou para confirmar? Ou então, porque ele decidiu continuar comigo mesmo desconfiando dessa possibilidade? Isso me pareceu ser um bom sinal de que essa questão não iria fazer que ele terminasse o relacionamento comigo.
Por outro lado, ele me relatou algumas experiência ruins com HIV/Aids. Ele já perdeu 2 pessoas da família dele com Aids e isso é algo que pareceu trazer um certo sofriemento a ele, pela forma como falou. Por outro lado, foi em outro tempo onde o tratamento não era tão evoluído etc e tal. Disse-lhe que  minha condição de saúde em relação ao vírus era boa e que provavelmente eu morreria com o vírus, mas não por causa dele. No final das contas, tudo continua bem em nosso relacionamento e temos outras questões que surgem para serem resolvidas pois essa do HIV já está superada :-D

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A pior doença

Ando num dilema terrível: em que momento devo contar para o cara por quem me apaixonei que eu sou soropositivo?

Tenho lido depoimentos a respeito e trabalhado o tema em terapia. Para mim é muito falar da minha intimidade de uma forma geral, e acho que essa é minha pior doença: o medo de me expor sem saber o que as pessoas vão fazer com o que vou mostrar a elas. Temo que achem feio aquilo que eu tenho dentro de mim (porque talvez eu mesmo ache feio).

Sempre tive dificuldade de me aceitar: meu corpo, minha família, minha condição social, meu status sorológico etc…

Tudo que eu tenho que foge ao padrão idealizado como pefeito acabo considerando como sendo o pior da categoria. Por exemplo, o meu corpo: não sou musculoso como se espera de um homem na nossa sociedade e por causa disso tenho vergonha de tirar minha camisa, me sinto inferior aos que o são e acho que o meu corpo é o mais feio de todos.

Acho que transpus toda esse sentimento de inferioridade para a condição do HIV e acho que sou portador da pior doença de todos os tempos. Contagiosa, vergonhosa, fruto de um castigo por ser promíscuo etc e tal…
O engraçado é que recentemente tenho prestado mais atenção em como existem pessoas com doenças crônicas em volta de mim.
Antes de conhecer esse cara com quem estou namorando agora, estava saindo com um outro que já fez algumas cirurgias e tem uma condição renal crônica. Antes desse estive com um  outro que tinha hepatite C. Esse foi engraçado porque ele falou umas 3 vezes olhando nos meus olhos: "porque eu tenho hepatite C!"fiquei com a impressão que ele achou que eu não tinha entendido a gravidade da doença ou que talvez eu não soubesse o que é hehe… e ainda assim não tive coragem de contar para nenhum desses 2 que eu era soropositivo. No caso deles também não estava suficientemente envolvido para me abrir. O cara da hepatite C eu tive muita vontade de contar até por solidariedade já que é uma doença com algumas características bem similares ao HIV sobretudo em relação a contágio,  tratamento etc.

Mas falando da história atual, estou bastante envolvido com esse cara e até já demos o título de namoro ao relacionamento que estamos tendo. Sinto que preciso falar para ficar mais tranquilo sobretudo na questão sexual. Espero encontrar o momento certo em breve. E mais do que isso, continuo tentando me curar da minha pior doença que é a dificuldade de autoaceitação que me persegue desde que me entendo por gente.