Outro fato é que mais recentemente as medicações pré-exposição (PrEP) foram disponibilizadas e muitas pessoas que fazem uso dessa alternativa passaram a fazer sexo sem preservativo, uma vez que o risco de contágio por HIV é praticamente eliminado.
Na prática então, tenho encontrado muitas pessoas que sequer perguntam o status sorológico do parceiro (eu no caso) ou se faz uso de alguma medicação. Ao chegar-se às vias de fato há uma tranquilidade muito grande da parte deles em iniciar o ato sexual sem preservativo, cabendo à outra parte a eventual iniciativa de exigir o uso da camisinha. E honestamente não sei se necessariamente trata-se de pessoas em uso de PrEP ou de TARV, pois nem sempre o diálogo alcança esse detalhe.
De todo modo, ao que sei, o propósito tanto da PrEP assim como da TARV não era o de eliminar a camisinha das relações sexuais causais, mas sim proteger as pessoas contra eventuais contaminações acidentais, assim como garantir a tranquilidade em casais sorodiscordantes que, nesse caso sim, poderiam, sob orientação médica, retirar o preservativo da relação.
E tem mais. Para além da TARV e da PrEP, existem dois fenômenos geracionais que também parecem interferir nesse comportamento atual do sexo sem proteção:
- A geração mais nova, que começou sua vida sexual recentemente (aí falo de adolescentes e jovens até 25 anos) não conheceram a faceta letal da Aids e não viram pessoas públicas definhando até morrer. Hoje em dia, pode-se dizer que praticamente não se morre mais de Aids e a infecção por HIV virou mais uma doença crônica passível de ser tratada e que não impede o soropositivo de levar uma vida normal. Há, em alguns desses jovens, um discurso de: "ah, se pegar HIV é só tomar um remédio e fica tudo bem".
- O outro fenômeno geracional parece estar localizado no estrato da outra ponta, os idosos. A melhoria as condições de vida, bem como as medicações para tratamento da disfunção erétil recolocaram pessoas com mais de 60, 70 anos "no mercado". Dessa forma, muitos deles voltaram à atividade sexual regular. Ocorre que a maior parte dessas pessoas começou sua vida sexual numa época onde não havia Aids e durante a parte mais ativa de sua vida, possivelmente estiveram em relacionamento estáveis e por isso não usavam preservativos. Agora então, são reticentes a incorporar algo que nunca foi um hábito. Alguns dados de saúde inclusive apontam que cresceu o número de infecção por HIV e outras DSTs nesse público.
A pergunta que proponho então é: o que o motiva a fazer sexo sem preservativo? Abaixo algumas elocubrações iniciais:
- Será um prazer físico pelo contato pele com pele, que gera sensações fisiológicas mais aguçadas durante o ato?
- Será um prazer transgressor em fazer algo que antes não era possível? Ou algo que, na verdade, ainda é considerado inadequado por muitos?
- Será algo ligado a nossa ancestralidade que induz a sentir que a cópula precisa da deposição do sêmen dentro do outro parceiro para ser completa, mesmo sendo um parceiro do mesmo sexo e portanto não fecundável?
- Será um instinto de autodestruição que leva a ignorar os riscos que, mesmo reduzidos graças a tecnologia disponível, ainda existem nesse tipo de prática?
- O que será?
p.s.: não é intuito deste post fazer apologia nem julgamento a nenhum tipo de comportamento. Quero apenas abrir um espaço para discutir uma questão atual que afeta a todos os que têm vida sexual ativa.