domingo, 13 de outubro de 2013

Quetões adjacentes - HPV no canal anal


No início desse ano descobri que estava com HPV no canal anal. O proctologista então me informou que devido à localização das lesões o único tratamento possível seria a retirada cirúrgica. Meu médico infectologista confirmou a importância de retirá-las uma vez que o HPV pode causar câncer e que no caso de uma pessoa soropositiva isso não é nada desejável. Depois desse diagnóstico ainda voltei no procto umas duas vezes até porque tinha um diagnóstico de outro problema no intestino (que estava tratando com remédios) e ele sempre falava da cirurgia. Tenho medo de centro cirúrgico, tenho receio de ter que me expor ao falar para as pessoas que vou fazer uma cirurgia proctológica (ainda que minta, dizendo que é de hemorróidas) pois fico associando o fato de ser gay ao julgamento que poderei vir a receber quando souberem. Tenho encontrado muitas desculpas para adiar essa cirurgia e recentemente resolvi procurar outros dois especialistas para ver se tomo coragem para fazer logo essa intervenção. Embora ainda não tenha tomado nenhuma outra atitude, pelo menos tive um outro parecer sobre a outra questão (possível retocolite ulcerativa) que me levava ao proctologista. Li algumas coisas a respeito dessa cirurgia em sites e blogs na internet e estou me preparando para fazer a tal cirurgia ainda antes do final do ano. Fico tentando achar o momento ideal onde haverá menos prejuízo para minhas atividades diárias (estudos, trabalho etc) mas esse momento parece não existir. Cada período que eu penso em marcar é repleto de compromissos e atividades às quais terei de me ausentar. Conversei com os 3 médicos sobre a questão do sigilo sobre minha condição em relação à soropositividade e em relação à cirurgia de HPV. Todos dizem ter entendido, apenas um falou que seria discreto mas não mentiria. Sei que estou correndo um risco de desenvolver uma doença grave mas ainda tenho medo. Sei também que essa condição me impede de fazer sexo anal - coisa que eu gosto muito. Como sou sexualmente versátil tenho conseguido ter relações sexuais como ativo, mas aí entra a neura do risco (e se a camisinha romper de novo e eu tiver que contar para mais uma pessoa que eu sou soropositivo). No final das contas tenho optado por ficar mais nas preliminares e práticas sem penetração anal (nem como ativo, nem como passivo), o que é prazeroso mas traz uma sensação de limitação. Por vezes quase disse para alguns parceiros que queria me penetrar: Olha, eu até curto ser penetrado, mas estou com um probleminha e não estou podendo. Mas quem disse que eu tenho coragem. Acabo preferindo optar pela versão do: hoje não! Por falar em hoje, tive há pouco um encontro com uma pessoa que conheci pela internet e ele queria me penetrar. Disse que hoje não e ficamos apenas na "pegação". Foi bom mas senti que ele ficou um pouco decepcionado e eu também. Enfim, tenho muitos motivos para fazer mas está difícil de dar o próximo passo.

Tive que contar no primeiro encontro

Recentemente conheci um cara bem interessante. Graças a tecnologia conversamos e vimos algumas fotos um do outro antes do primeiro encontro que não demorou muito para acontecer.
Nos vimos pessoalmente num final de semana, na hora do almoço. Ele avisou que não teria muito tempo livre mas que serviria ao menos para nos conhecermos. Ocorre que o almoço emendou com a sobremesa num café próximo a onde estávamos e depois viemos para minha casa. A química estava boa e terminamos o encontro na cama com uma boa transa.
Ocorre que, por infortúnio, a camisinha rompeu enquanto eu o penetrava e eu acabei ejaculando dentro dele. Só percebemos isso ao final do ato. Ele tomou seu banho e voltou ao quarto um tanto quanto perturbado com o fato. Perguntei-lhe se estava tudo bem e ele disse que não. Disse que isso nunca o tinha acontecido e que ele estava preocupado. Dado o contexto, resolvi contar e comecei dizendo que preocupações são justificáveis quando não se tem certeza das coisas mas que naquela situação não havia motivo para elas pois eu poderia dar-lhe um grau de certeza bastante elevado. Nesse momento contei que era soropositivo há alguns anos e que estava com minha carga viral zerada graças ao uso de medicação e que isso significava um baixíssimo risco de infecção. Ainda asism, a recomendação era procurar um centro de saúde e eu poderia auxiliá-lo no procedimento. Fiz uma pausa após dizer que ainda teria muitas coisas para falar mas que não sabia se ele as queria ouvir. Ele pediu que eu continuasse. Prossegui acrescentando alguns detalhes sobre o funcionamento da infecção pelo HIV e sobre a ação dos medicamentos antirretrovirais. Expliquei também o que o protocolo de profilaxia pós-exposição recomenda em caso de contato com sangue ou sêmen de pessoa sabidamente soropositiva - ele necessitaria tomar medicação similar à minha por 30 dias, iniciando o mais breve possível, e isso reduziria a praticamente zero o risco de infecção. Instrui-o a procurar qualquer hospital público com serviço de emergência pois era final de semana e sugeri alguns postos de saúde par ao acompanhamento durante a semana. Ofereci-me para acompanhá-lo mas ele recusou. Pedi-lhe que me desse notícias e ele foi embora. Algumas horas depois recebi a notícia que ele havia sido atendido e tomado a primeira dose da medicação No dia seguinte ainda pela manhã ele me liga dizendo que estava com a médica infectologista num posto de saúde e que ela queria falar comigo. Ela me fez algumas perguntas sobre minhas taxas de carga viral e CD4. Perguntou também quem me acompanhava e de que medicação eu fazia uso. Depois desse dia tentei contato com ele para saber como ele estava durante quase um mês mas ele não respondia às minhas mensagens e nem atendia minhas ligações. Confesso que fiquei um pouco triste mas tive que respeitar a sua posição. No final de semana passado, cerca d 40 dias depois do fato, eu o vi na rua e quis cumprimentá-lo mas preferi não fazê-lo pois receava uma reação ruim da sua parte. Uns dias depois recebo uma mensagem dele informando que havia feito o segundo exame de sangue e que continuava negativado. Falou também que passada a tensão inicial ele reconhecia minha coerência e honestidade, que foram necessárias. Pediu que eu continuasse assim e me desejou boa sorte. Essa mensagem me trouxe ao mesmo tempo alento e tristeza. Alento pois fiquei feliz ao saber que ele não guardava mágoa ou ressentimento de mim. Tristeza pois o "boa sorte e fique bem" soaram como uma mensagem de não vamos mais nos ver. Ao respondê-lo quase questionei se poderíamos ser amigos, nos ver de novo, ou falar que havia gostado de conhecê-lo mas preferi me conter. Disse-lhe que ficava feliz com a notícia e com o reconhecimento. Desejei-lhe uma boa continuação também. Essa história embora tenha tido um final feliz me fez pensar novamente sobre a questão de como será para mim conseguir um relacionamento. Será que terei de procurar outro soropositivo para evitar esse tipo de questão? (a pessoa decidir não mais me encontrar por causa do vírus). Confesso que não sei a resposta mas é algo que me incomoda.

Quando e para quem contar?

Desde que descobri que era soropositivo passei a viver me fazendo a pergunta de quando e para quem contar minha situação. De forma resumida decidi que só contaria para os profissionais de saúde que me atendem e assim tenho feito desde então.
No início a cada vez que eu estava diante de um médico, uma das primeiras coisas que eu falava é que eu era soropositivo, fosse para ver um calo no pé ou por causa de um resfriado. Tomava essa atitude por achar que todas as doenças poderiam ter alguma relação com o HIV e/ou que a medicação prescrita poderia de alguma forma interagir com o vírus.
Embora o sempre compartilhar com os profissionais de saúde seja uma recomendação dos infectologistas, passei a evitar algumas exposições em casos de situações mais pontuais e externas.
Por outro lado, continuo muito em dúvida na hora de decidir quando devo contar para um parceiro sexual e nesse aspecto já passei por situações as mais diversas. Já contei quando achava que não deveria, já deixei de contar quando achava que deveria ter contado e por aí vai. Houve uma época que eu até entrei no batepapo de HIV positivos para discutir a respeito e percebi que não há consenso e cada um faz de uma forma. Tem gente que conta no primeiro encontro mesmo que não haja sexo. Tem gente que só fala quando vê que vai dar algo sério. Tem gente que fala sempre que vai fazer sexo. E tem gente que não fala.
Eu tenho me posicionado mais próximo daqueles que contam apenas quando vê que há um envolvimento que deve render um relacionamento mais sério e isso não tem necessariamente a ver com tempo transcorrido ou com quantas vezes foi para a cama. A medida é subjetiva e envolve o grau de intimidade que se criou e a expectativa de continuidade que a relação tem.
Para esse tipo de situação, a última vez que eu falei de minha condição foi para um namorado com quem eu estava há um mês e pouco e por quem eu era perdidamente apaixonado. A reação dele na hora foi de naturalidade pois disse conhecer vários soropositivos. Disse que há havia perdido amigos com aids e que tinha outros que estavam aí vivinhos da silva. Disse também que isso não mudaria nada entre nós. Coincidência ou não, nosso namoro não durou um mês depois desse dia.
Já houve também situação em que eu acabei contando por outros motivos mas vou tratar desse assunto num post específico.