quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Medo de ser contaminado

Recentemente conheci um rapaz e começamos a sair.
Tivemos uns dois encontros "sociais", ou seja, sem maiores intimidades sexuais. Quando chegou a oportunidade de algo mais físico acabei "brochando" e não consegui ficar com ele. Rolou um certo constrangimento da minha parte, mas ele foi bastante compreensivo com a situação.
No encontro seguinte, que foi apenas "social", conversamos sobre diversos assuntos e lá pelas tantas ele me conta que teve um namorado soropositivo e que foi muito difícil para ele viver essa relação pois sempre achava que iria ser contaminado. E mesmo depois dele, a cada vez que ficava doente, corria para fazer exames para ver se estava tudo bem.
Não preciso nem mencionar o quanto isso foi um balde de água fria em qualquer expectativa que eu ainda poderia ter em construir uma relação com ele né? No momento não consegui falar nada, apenas fui para casa pensando muito nessa história.
Diversas possibilidades passavam pela minha cabeça:
1) melhor me afastar sem falar nada sobre HIV pois evita que eu tenha de me expor por uma coisa que "já está na cara" que não vai dar certo
2) contar que sou soropositivo apenas para justificar nosso "término"
3) contar que sou soropositivo e ver como as coisas andam
Apesar de a primeira opção ser minha escolha "natural" depois de uma conversa com meu psicoterapeuta acabei optando pela 3a. Ou seja, contar, de coração aberto, e ver o que aconteceria. Minha expectativa é que o cenário 2 se realizasse e que ele dissesse algo do tipo: "Puxa, que bom que você me contou e que bom que 'não rolou nada' entre a gente. Melhor ficarmos por aqui mesmo"
Chegado o dia da conversa, fui à casa dele e logo nos primeiros minutos disse que queria conversar com ele sobre um assunto delicado. Relembrei a conversa sobre o medo dele em ser contaminado e anunciei minha condição de soropositivo.
Ele, para minha surpresa, reagiu com extrema tranquilidade e com uma sensação de epifania. Falou que agora então compreendia porque não tínhamos conseguido ter intimidade sexual. Possivelmente eu estaria preocupado por não ter contado antes. Disse que, na verdade, hoje lida com muito mais tranquilidade com essa questão e que não via problema algum em continuarmos.
Inacreditável!
Tirei um peso enorme das costas, contei algo que me é muito desconfortável de revelar e fui super bem acolhido. 
De todo modo, hoje não estamos mais juntos, porém o motivo é outro e não tem nada a ver com o HIV. No final das contas nossa intimidade sexual continuou não fluindo favoravelmente e eu percebi que eu gostava dele mais como pessoa do que como homem. Ou seja, adorava conversar com ele mas não me sentia atraído. Por ele ser uma pessoa super legal, até tentei mais algumas vezes, porém finalmente depois de algum tempo decidi me afastar até para não ficar gerando expectativas falsas nele.
Sei que cada um tirará um aprendizado dessa minha experiência, mas o que ficou para mim é que, no final das contas, é realmente muito difícil prever como as pessoas vão reagir à revelação sobre a soropositividade. Eu tenho tido muitas gratas surpresas. Não sou daqueles defensores de que devemos contar sempre no primeiro encontro e tratar disso como se estivesse falando do meu signo e possivelmente nunca serei. De todo modo, fica aí meu relato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário